Receber aquele tipo de experiência que pode transformar uma percepção ou mesmo criar outros modos de olhar é motivo de alegria e gratidão. Uma vez que estamos constantemente cercados por um turbilhão sem fim de estímulos, é preciso um milagre para respirar com calma e ver o evidente bem ali, como que nos saudando amigavelmente. Para mim isto começa com um pain au chocolat.
Era sábado e fomos tomar café da manhã, minha esposa e eu, em um lugar simples e acolhedor próximo ao largo do padre Péricles. Ao chegarmos as portas estavam cerradas, mas nosso primeiro anfitrião, um jovem funcionário bastante solícito, veio nos receber e assim que as mesas foram postas, mesas com toalhas quadriculadas com tons de branco, vermelho e azul – um pedaço da França para quem nunca esteve no velho continente, para mim a lembranças da chegada para um pique nique –, entramos e uma agradável sensação de calor nos saudou, nosso segundo anfitrião.
Eram poucas as opções para consumo nas mesas. Embora notei que pessoas entravam e saiam com seus pacotes de encomenda. Talvez as possibilidades aumentassem para quem pedisse com antecedência. Foi o que imaginei, pois não queria pensar que um ambiente aconchegante como aquele teria tão poucas oportunidades de doces, folhados e rotisserie. Mas havia algo nessa simplicidade que convidava gentil, algo semelhante a um afago, e eu pude compreender melhor a sensação no final da experiência.
Melhor é não escolher, aceitar o que chega, como a abertura que se propõe todo aventureiro. Minha esposa trouxe dois pain au chocolat e dois cafés. Tenho dúvidas se era isto mesmo que ela queria ou se ao pedir um croissant ou brioche a atendente sugeriu o pain au chocolat. Destino, desconhecimento ou simples casualidade, logo na primeira mordida, no instante em que a textura folhada e macia, quente e doce do pain au chocolat se juntou à minha boca, eu me desmanchei. Perfeito! Eu gostei de estar ali, então era bom viver.
O pain au chocolat é um pão folhado com chocolate dentro. Sem os ingredientes corretos, temperatura e a técnica do cozinheiro a experiência seria outra, não haveria experiência. O pãozinho que comi foi criado para o paladar humano, para e por quem sente e respira, olha e ouvi os objetos e relações do mundo permeado pelo humano. Pensei naquela maçã que rejeitei na infância, no melão e na jabuticaba que rejeito até hoje. Será que faltou os ingredientes, a temperatura e a técnica corretas para a natureza trazer ao meu paladar o sabor irresistível do pain au chocolat? Os sabores da natureza são infinitos, está justificada! Há muitos outros seres para fruir seus frutos. O pain au chocolat é para mim, era como se eu mesmo o tivesse feito: é humano, familiar e intensamente próximo à cultura em que habita em mim.
Brioche Brasil
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